Vinho

A poda. Ou uma bela desculpa para falar do grande Amândio!

Poda

Ora bem, afinal o que é a poda? “A poda é uma monda antecipada de frutos”, explica o Amândio. Onde é que eu já li isto? Foi no livro Tecnologia Vitícola, que o próprio Amândio escreveu com o mítico Rogério de Castro, e que servia de manual para a minha cadeira de Viticultura Geral. Pois é, estou em plena AdegaMãe com o grande Amândio, o consultor de viticultura aqui da casa e um dos professores que mais me marcou durante o curso no ISA – Instituto Superior de Agronomia. Está visto, a poda é só uma desculpa para meter conversa acerca dele. E matar já essa coisa que às vezes chamam de confronto entre viticultura e enologia…

 

O vinho faz-se na vinha ou na adega? Claro que o confronto não existe. Melhor a viticultura, melhor o vinho! Somos parceiros, o trabalho complementa-se. É possível fazer um grande vinho a partir de grandes uvas, mas é impossível fazer um grande vinho se as uvas não forem nada de especial. É mais ou menos isto, creio, especialmente se tivermos em conta que o grande desafio da enologia é preservar a autenticidade das uvas que chegam à adega. Sim, às vezes é só não estragar.

 

Se calhar o confronto é mais uma pequena guerrilha de egos, porque regra geral quando chegam os prémios e os elogios toda a gente se lembra dos enólogos e esquece os viticultores. Portanto, eu hoje escrevo sobre o Amândio, a pessoa que eu conheço em Portugal que mais sabe sobre viticultura, porque alia o conhecimento teórico e técnico a uma vasta experiência que tem vindo a aplicar em diversos projetos por todo o país. Com grandes resultados.

 

Conheci o Amândio enquanto estudante. Juntamente com o professor Rogério de Castro, ele foi uma das pessoas que mais me influenciaram na carreira. Foram eles, aliás, que me possibilitaram o primeiro contacto com o Anselmo Mendes, com todas as consequências que isso trouxe para a minha vida profissional. Chegámos aliás a trabalhar juntos, os quatro, e hoje o Amândio acompanha-me em praticamente todos os projetos onde estou presente, apoiando a produção com a sua consultoria em viticultura, isto é, complementando todo o trabalho existente.

Além de grande conhecedor, o Amândio é também um resistente. É como esta vinha que se enche de força para vingar o Inverno. Lembro-me dos tempos de estudante, quando nos levava pelo país à descoberta desde e daquele produtor, em viagens que nos derrotavam pelo conhecimento e pelo cansaço. O Amândio era sempre o último a cair. Aprendemos muito, por exemplo sobre a poda, a tal “monda” que agora observamos, em que se remove a madeira em excesso que ficou da colheita anterior e em que começamos já a controlar a produção do ano seguinte.

 

Lá está, de certo modo a qualidade das uvas começa já aqui, na poda. O Amândio define o melhor para o comportamento das nossas castas, procurando um equilíbrio entre produção e qualidade. Depois são as tesouras, nas mãos experientes do Pedro, do Marco, do “Bana”, do Armindo e do “Dorel”, que aplicam os golpes certeiros em cada videira. São os cirurgiões da vinha, não falham. Na AdegaMãe faz-se um trabalho misto, em que se conjuga a poda curta (a chamada poda a talão, em que na videira se deixa apenas uma pequena unidade com dois olhos) com a poda longa (em que se deixa uma vara com quatro ou mais olhos).

 

Depois é aguardar. Daqui a um instante o resultado começa a observar-se, na forma como a vinha começa a rebentar. Sim, a vinha é resistente, é como o Amândio!