2 + 2 = 1! Um Alvarinho que começou dentro do carro e acabou com o Anselmo nos tachos

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Início da vindima de 2015. Estou com o Anselmo Mendes no carro, nos primeiros de milhares de Kms que faço todos os anos por essa altura, acima e abaixo, abaixo e acima, entre as diversas regiões onde tenho projetos, alguns em parceria com o mestre. Sempre falámos em fazer um vinho em conjunto, mas que fosse não apenas o resultado normal do trabalho que vamos partilhando; queríamos algo mais do que isso, algo que integrasse o que nos distingue. Mas fazer o quê?
– Naturalmente tem que ser um branco!
– E se é um branco, tem que ser um Alvarinho!
A ideia, afinal, era um bocado óbvia. Tínhamos que homenagear a mais importante casta branca portuguesa, ainda por cima aquela que o Anselmo Mendes conhecia melhor do que ninguém e já tinha elevado a patamares incríveis. Então havia que fazer diferente, e começámos a afinar ideia.
– E se fizermos um Alvarinho de duas regiões? Um Alvarinho Anselmo Mendes, da Região dos Vinhos Verdes, e um Alvarinho Diogo Lopes, da Região de Lisboa? Temos o Alvarinho que trabalho na AdegaMãe, isolo a melhor barrica e fazemos um blend com os dois.
– Faz sentido! Só falta convencer a AdegaMãe a entrar no projecto!
Claro que o Bernardo Alves, diretor-geral da AdegaMãe, deu logo o OK. Tanto que acabaríamos por fazer o blend e o engarrafamento na própria AdegaMãe. Foi ali que juntámos o Alvarinho do mestre, feito como só ele sabe, e o Alvarinho AdegaMãe, feito segundo o meu protocolo. Os dois vinhos fermentaram seis meses em barricas usadas, de 500 litros, de Carvalho Francês, e no final fechámos o lote, curiosamente um 50/50, que veio dar ainda mais piada à coisa. E assim nasceu um novo estilo de Alvarinho, uma nova interpretação da mais importante casta portuguesa.
Foi igualmente na AdegaMãe, aliás, que acabámos por fazer o lançamento. Aí procurámos um evento muito informal, até improvável, mas que foi um sucesso: fizemos uma prova com os jornalistas e críticos num almoço de Lampreia, cozinhado pelo próprio Anselmo Mendes. O mestre virou chef por um dia, e mostrou que até de volta dos tachos é um especialista. E o vinho bateu-se mesmo bem com a Lampreia, também por aí colhendo grandes elogios. Depois, abriu páginas na Imprensa especializada e a revista Vinho Grandes Escolhas, por exemplo, atribui-lhe logo 18 pontos, em prova, fazendo-o entrar diretamente no top dos melhores alvarinhos do País. Fantástico!
O resultado final foi um vinho que conjuga o típico lado mais austero de Monção, com a exuberância e até alguma salinidade muito característica de Lisboa. Ou seja, fundimos a melhor expressão de dois terroirs distintos. 2 Regiões, 2 Enólogos, 1 Alvarinho.
E por isso lhe chamámos Alvarinho 2 2 1.
Servidos? Ele ainda anda por aí, agora só não temos a lampreia…