Avesso. Os Vinhos Verdes ao contrário
As encostas acentuam-se e a estrada fica cada vez mais difícil, contornando as casas decoradas com vinhas em latadas, tão típicas da região. Na descida, o rio Douro! Estamos em Santa Marinha do Zêzere, Baião, limite sudeste da Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Mas aqui tudo é diferente.
O clima é extremo. Verões muito quentes e invernos frios, sempre com grandes amplitudes térmicas. Tempo mais seco, com muito menos chuva, e solos muito pobres, marcados pelo granito. São os Vinhos Verdes ao contrário. E é a zona do Avesso. Aqui surge o terroir de excelência para a evolução de mais uma intrigante – ou entusiasmante – casta branca portuguesa. E o nome é mesmo esse, Avesso. Porque é difícil, da viticultura à adega.
O Avesso gosta do clima mais continental, quente. Pode originar vinhos com estrutura, com mais corpo, de grande concentração alcoólica – lá está, os Vinhos Verdes ao contrário… – mas vindimado na altura certa guarda uma acidez extraordinária, que lhe garante um enorme potencial de evolução, proporcionando vinhos de carácter, únicos, pelas características da própria casta e porque praticamente não se fazem em mais lado nenhum (a variedade não é uma grande viajante, para lá de Baião ou muito menos dos Vinhos Verdes para fora).
Existem alguns produtores que têm feito um trabalho muito interessante com o Avesso – Covela, por exemplo – mas a variedade continua praticamente desconhecida dos consumidores. E pode vir a ser mais uma revelação entre tantas que têm surgido na Região dos Vinhos Verdes. É precisamente essa convicção que levou a uma aposta, minha, juntamente com o Vasco Magalhães, o André Miranda e o Carlos Coutinho, de concretizar um projeto exclusivo em torno desta casta, ancorado na marca Cazas Novas.
O nome vem de uma das quintas que a família do Carlos Coutinho mantém de forma irrepreensível, em Santa Marinha do Zêzere. Entre quatro propriedades, marcadas pelas casas senhoriais, barrocas e solarengas, concentram a maior mancha de Avesso na sua sub-região de Excelência, Baião, um total de 24 hectares de vinhas velhas e mais recentes… Uma relíquia, que temos vindo a testar nos últimos anos e a partir da qual iremos trabalhar várias expressões de Avesso, de diferentes parcelas, de vinificações distintas, com e sem fermentações em madeira, procurando assim contribuir para a valorização da variedade e da região.
Daqueles Vinhos Verdes com viticultura difícil, à Douro, em patamares, podem mesmo nascer brancos sérios, mais directos ou com maior complexidade. Este verão, o projecto Cazas Novas dá mais um passo na interpretação da casta, com o lançamento de dois novos vinhos 100% Avesso, nascidos da vindima de 2019: um “Colheita” pleno de intensidade aromática, frescura e mineralidade; e um “Pure” mais complexo, a potenciar toda identidade da casta, equilibrando aromas, acidez e cremosidade.
Dois vinhos novos, a apontar ao verão e ao futuro da casta.
Do Avesso!