Vinho

Diário da Vindima (II). Quando Sir Winston Churchill se junta à festa…

Pol Roger

Esta é aquela fase do ano em que o enólogo desaparece para se tornar um tipo estranho, meio stressado, às vezes um bocado mal-disposto. Enfim, não levem a mal, que isto ataca todos os anos. Chama-se vindima, e deixa-nos assim numa espécie de concentração cega, que não nos deixa ver nada além de uvas, mostos, cubas e barricas. A verdade é que isto é muito mais divertido do que parece! E passa como uma vertigem. Este é o diário de uma semana na vindima, ente 5 regiões, 7 adegas e uns valentes Km na estrada. Depois do texto de segunda-feira, segue mais um diário da vindima:

 

Terça-feira | 367 Km – 958 KM

Herdade Grande (Alentejo); Kranemann Wine Estates (Douro)

Depois do petisco na Tia Jacinta dormi em plena Herdade Grande. É sempre uma experiência acordar no Alentejo, no meio daquelas vinhas, onde mais nada parece existir à nossa volta. Um papo-seco e um abatanado depois e já estou na adega. A equipa segue a remontagem de tintos a todo o vapor. Eu e o Pedro enfiamo-nos no laboratório, provamos os mostos novamente e olhamos o quadro de planeamento. Reforçamos a ideia em torno dos dos vinhos nos quais vamos apostar.

 

Herdade Grande

 

Segue-se uma reunião com a família Lança, já a planear alguns aspetos para o centenário desta casa, que aí vem em 2020, oiço mais uma história deliciosa do sempre inspirado Eng. António Lança e chega a hora de me fazer à estrada, em direção ao Douro. O almoço bate certo com a passagem por Santarém, pelo que finalmente aproveito por ir à Taberna ó Balcão, a casa mais badalada do Ribatejo nos últimos tempos. E com toda a justiça! Ora bem: Croquete de Toiro Bravo; Coscorão do Rio; Lombeta… Que trabalho incrível de recuperação da gastronomia local (ou como ele próprio diz, das suas memórias de infância) está a fazer o chef Rodrigo Castelo. Parabéns!

 

Taberna Ó Balcão

 

Café duplo, que vou aconchegado de Lombeta em direcção a Coimbra, Aveiro e Viseu, onde apanho uma carga de granizo como nunca…. Apesar do atraso, Régua, Tabuaço, e a meio da tarde já estou na adega da Kranemann Wine Estates, na Quinta do Convento de São Pedro das Águias, essa autêntica relíquia de história, de arquitetura e de vinhos num Douro muito especial – o do Vale do Távora. A Susete, o Vasco e a equipa aguardam-me.

No Douro tudo é diferente porque, entre brancos e tintos, temos o processo do Vinho do Porto – ao início o processo é igual, com a pisa das uvas, mas depois chega o momento-chave em que incorporamos a aguardente e retiramos o vinho do lagar. Esse timing é crucial, em função do estilo de Porto que procuramos, e nós pretendemos que seja mais seco, num perfil um pouco distinto da norma. Decidem-se quais os lagares com mais potencial de extracção, se o que está em causa são rubis de topo, nomeadamente Vintage ou LBV’s, ou os mais indicados para os Tawny, onde se extrai menos. O Porto é uma imensidão no já imenso mundo do vinho. E é um desafio incrível!

 

Kranemann Wine Estates

 

O tempo voa. Já de noite, saída direta para a Toca da Raposa, em Ervedosa do Douro. Mais uma refeição a sério? Calma, que isto tem explicação. No dia seguinte faço anos e faço questão de entrar, à mesa, com os amigos que comigo trabalham. E eis que esta gente, para antecipar o cabrito, o arroz de miúdos e o tomate coração de boi, me saca de surpresa um Pol Roger Sir Winston Churchill 2008 – sim, o topo de gama da casa Pol Roger, feito em homenagem a Sir Winston Churchill, um apreciador de champagne que não se ficava com um vinho qualquer. “My tastes are simple. I am easily satisfied with the best”, dizia.

Pronto. Estou sem palavras…

 

Toca da Raposa