E se os brancos portugueses fossem vinhos de classe mundial?
É um facto, Portugal está a meter-se entre os grandes países produtores de vinho, cada vez mais as nossas marcas são referidas, pela qualidade que apresentam, especialmente os tintos. Mas, e se os brancos portugueses fizessem igualmente este caminho, para se tornarem vinhos de classe mundial? Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, sinceramente acho que já estamos em marcha. Ando para escrever isto há uns tempos. E não, não me estou a meter com o Pedro Garcias, que ainda no outro dia abordou este assunto no Fugas (Público) de modo, digamos, um pouco menos menos otimista.
É certo que a minha opinião é totalmente enviesada. Sou um borgonha lover e a minha relação brancos-tintos deve andar nuns 70-30%. Em parte, se calhar porque o primeiro vinho engarrafado que provei em miúdo foi um Loureiro, cheiro de aroma e com ligeiro gás, que o meu avô tinha lá para casa trazido por uns amigos de Ponte de Lima. E como eu gostava daquilo!
Mas eis a razão pela qual acredito que podemos ter grandes brancos: porque temos grandes castas. Portugal é conhecido pela sua enorme diversidade de castas autóctones. Entre castas brancas e tintas, são mais de 250 diferentes variedades de uva, o que nos torna num dos países mais interessantes do ponto de vista da originalidade dos vinhos que produzimos. Mas para mim, desculpem, são as variedades brancas que se destacam. Todos os anos, durante a vindima, fico impressionado com “novas” expressões que vamos encontrando nos diferentes ambientes onde testamos algumas variedades. Ainda na última colheita de 2017 fui mais uma vez surpreendido.
Sim, Portugal é um país de clima relativamente quente, estamos etiquetados como um país de tintos – e claro do Vinho do Porto – mas temos igualmente as nossas regiões bem frescas, onde podemos concretizar este potencial de sermos um dos países com os brancos mais originais do mundo!
Vou destacar algumas dessas castas:
Alvarinho
É a rainha das castas brancas de Portugal. Por razões obvias, tinha de a destacar em primeiro lugar, porque foi com o Alvarinho que tudo começou para mim. Mas é na verdade uma casta de classe mundial, elevada a um nível único graças ao trabalho de experimentação feito pelos mestres, como o Anselmo Mendes. A partir da região dos Vinhos Verdes, seja nova ou envelhecida, está a definir o seu espaço entre os grandes brancos do Mundo. E como nós gostamos da forma como se adapta, e do tempero que nos empresta, aos brancos de outras regiões.
Loureiro
Como disse, penso que foi o primeiro vinho engarrafado que provei na vida, graças a uns amigos do meu avô que apareciam lá na Beira Interior para uns dias de caça, e de copos. O seu carácter floral é sempre marcante, mas o mais impressionante nos bons Loureiros é o seu potencial de envelhecimento. Uma autêntica surpresa.
Avesso
Uma descoberta ainda mais recente do que o Loureiro. Tenho lidado muito com esta casta, através do projeto Cazas Novas, e o potencial é muito interessante. Originária da zona de transição entre o Douro e a Região dos Vinhos Verdes, e plantada em solos graníticos, proporciona vinhos de grande mineralidade, boa acidez e com grande equilíbrio. A seguir com atenção!
Arinto
Esta é a casta que equilibra os vinhos em Portugal. Plantada de Norte a Sul é uma casta melhoradora, pela sua natural acidez e pelo toque citrino que transmite aos vinhos. Mas também funciona muito bem a solo, principalmente nas regiões de Lisboa e da Bairrada, onde a frescura do clima potencia a sua melhor expressão.
Viosinho
Muita, mas muita atenção ao Viosinho. É uma casta originária do Douro mas hoje podemos encontra-la um pouco por todo o país. Dou apenas o exemplo do que alcançámos, em Lisboa, na AdegaMãe: é só a minha variedade favorita, presente em quase todos os principais lotes. Mas atenção mais uma vez, porque se impôs igualmente como um varietal extraordinário, que salta para um nível fantástico com alguns anos de estágio de madeira.
Encruzado
A grande casta branca do Dão, o Chardonnay português, que nos dá vinhos de corpo, presença de boca, mineralidade e elegância. Na conjugação de altitude com solos de origem granítica, dá-nos vinhos enormes, com grande potencial de envelhecimento.
Bical
É a grande casta da Bairrada. Os vinhos são muito minerais. E, como têm uma grande capacidade de evolução, aguentam muito bem a fermentação em barrica. Os melhores exemplares desta casta vêm dos solos argilo-calcários.
Antão Vaz
A casta rainha do Alentejo. Cheia de originalidade é uma variedade que surpreende muito na boca, onde ganha muita textura e volume. Na Vidigueira, especialmente, é a casta que manda.
Síria
Também conhecida por Roupeiro no Sul. É uma casta muito interessante, mas admiro principalmente o seu comportamento nos solos graníticos da Beira Interior.
Verdelho
Uma paixão. Naturalmente destaco o comportamento desta variedade nos Açores, quer nos Biscoitos quer no Pico, onde se fazem alguns dos mais originais vinhos em Portugal no momento.
Gouveio
Uma casta que gosto cada vez mais. Podemos encontrar grandes exemplares no Dão, vinhos muito finos e cheios de carácter.
Fernão Pires
A mais plantada das castas brancas portuguesas. Presente em todas as regiões demarcadas. Produz muito bem, é generosa para o viticultor. Quando vindimada a tempo faz vinhos muito expressivos, com notas florais muito finas e elegantes. Na Bairrada é conhecida por Maria Gomes.
Malvasia e… outras
Em Portugal podemos encontrar esta casta principalmente no Dão e na pequena região de Colares. Com perfis naturalmente bem distintos, mas muito autênticos. Como a Malvasia, podia falar ainda da Cerceal, Rabigato, Códega do Larinho, Vital… Temos mesmo grandes castas brancas em Portugal, temos é que trabalhá-las porque a qualidade é única e acabará reconhecida.