Gastronomia

Mesa. Onde eu gosto de perder-me no Alentejo

Nasci em Lisboa, o meu sangue vem ali de perto da Serra da Estrela, mas estou convertido ao Alentejo. Não faz muito sentido, porque é cidade vs montanha vs planície, uma confusão que só se entende porque em 2005 fui viver para Mora, à custa daquele que foi o meu primeiro trabalho como enólogo.

Foi a partir de Mora que comecei a perder-me pela planície e a perceber verdadeiramente quem são aquelas gentes, ou o que é o calor daquela terra – e não estou a falar de temperaturas, mas das pessoas, de como elas se dão, aos outros e à sua vida.

O Alentejo está-me no corpo e o melhor é que, além deste lado mais sentimentalista, também me atinge pelo lado gastronómico. Converti-me à mesa simples alentejana, sou beato daquilo tudo, do pão e dos azeites, do tomate maduro como em lado nenhum, dos alguidares de carne, dos petiscos, dos tachos, da caça, das ervas aromáticas que de pobre não têm nada, porque tornam tudo tão rico…

 

 

O melhor da cozinha alentejana é que está um pouco por todo lado, no bom restaurante que faz nome há décadas, ou na tasca de aldeia que o País ainda não conhece. Se há lugar neste Mundo em que a partilha faz sentido, então é no Alentejo. Por isso aí ficam as minhas humildes propostas. Se já conhecem, ainda bem, pode ser que por lá nos encontremos um dia destes. Se não, não se esqueçam de me avisar.

 

A PALMEIRA – CABEÇÃO

Não há discussão. Estão aqui as melhores migas de espargos do Mundo! Convém lembrar que no Alentejo, quando se fala em espargos não estamos a falar daquela coisa embalada de prateleira de supermercado. São espargos selvagens, aqueles rebentos tenros e ácidos que se vão encontrando depois das primeiras chuvas. Quem aqui chegar deve ir também à sopa da panela, que é de pombo. Tudo bem feito, desde as entradas ao vinho de talha produzido mesmo ao lado. Para quem não consegue resistir a bons torresmos, o melhor é ficar em casa.

 

O AFONSO – MORA

Uma grande instituição no Alentejo. Aberto há quase 60 anos, tem uma perdiz à Dona Bia, mergulhada num molho que é ele próprio o Alentejo e carregada numas fatias pão frito. De chorar. E a Feijoada de Lebre? E a garrafeira, que é só uma das melhores de todo o Alentejo? Estão a perceber por que razão, a partir de 2005, o Afonso se tornou a minha cantina?

 

 

ADEGA VELHA – MOURÃO

Ponto prévio. Toda a gente que pisa este mundo não devia ir embora sem conhecer o Joaquim Bação. Convém não reduzir o Joaquim à primeira pergunta que faz sempre que nos vê: “Tinto ou Branco?”. O vinho será só o ponto de partida para a conversa interminável com uma das pessoas mais apaixonantes do Planeta e arredores. Geralmente em torno de um cozido de grão, ou dos típicos pratos de cozinha regional que ali se fazem tão bem. Só uma nota: entre talhas, artesanato e recantos cheios de tradição e bom gosto, é seguramente um dos mais belos restaurantes alentejanos.

 

 

O CHANA DO BERNARDINO – ALDEIA DA SERRA D’OSSA

O Chana do Bernardino tem logo um momento épico, que é a conversa de introdução do Sr. Bernardino, uma espécie de declaração de intenções, e de humildade, para avisar ao que vamos. E depois vamos sempre vem. Só um aviso para os pezinhos de coentrada? Provavelmente os melhores de sempre!

 

TOY FAROIS – PORTO DE PELES

Uma grelha, carvão e carne. É possível brilhar em cima disto? Ninguém domina o porco preto no churrasco como o Toy. O entrecosto ou os lagartos são para lá ficar a lamber dedos. Sim, com batatas fritas (em azeite) e salada de tomate como manda a regra: bem vermelha e madura, e com a pedras de sal bem presentes.

 

 

PAÍS DAS UVAS – VILA DE FRADES

Palavra chave: Silarcas. São uns cogumelos selvagens que se encontram com abundância nesta zona. Comem-se grelhados como entrada, com ovos mexidos ou mesmo num estufado de borrego. Para quem vai à procura de surpresas, este é o sítio para isto e muito mais.

 

O POÇO – BROTAS

Escondido numa pequena aldeia no concelho do Mora, é um hino aos produtos regionais e à cozinha caseira tão emblemática do Alentejo. É a simpática família Vinagre que está no comando das operações, levando-nos à perdição por entre Migas de Espargos, Perdiz Estufada e uns belos doces conventuais.

 

 

A MARIA – ALANDROAL

Mais uma opção bem no interior do Alentejo onde vale mesmo a pena ir. Tudo aqui é bem cozinhado! Benditas ervas aromáticas!

 

BOTEQUIM DA MOURARIA – ÉVORA

O meu preferido em Évora, e vocês sabem os bons restaurantes que existem em Évora! O amigo Domingos e a sua esposa recebem-nos sempre com um sorriso. Só há espaço para uns 8 lugares e há que ir com tempo, porque as sugestões do Sr. Domingos não dão descanso. É daqueles sítios que nos fazem sair da cama e fazer 200 Km para ir almoçar!

 

 

TASCA DO MONTINHO – AVIS

O paraíso do tomate. O melhor tomate do Alentejo. É chegar e pedir Migas de Tomate. Com o quê? Não interessa. Vamos repetir: Migas de Tomate, que são mesmo do outro mundo!

 

O ALPENDRE – ARRAIOLOS

Não vai ser fácil ir ao Alpendre e depois das entradas ainda comer mais qualquer coisa. É um festim dos petiscos e das pequenas iguarias, todas de enorme qualidade.

 

ADEGA DO ISAIAS – ESTREMOZ

É daqueles sítios bem castiços. Numa antiga adega, cheia de talhas de barro, encontramos este restaurante regional. As burras no forno são épicas e a caldeirada de caça é memorável.

 

 

Enfim, as boas opções não faltam. E o melhor é que vai sempre aparecendo mais uma, porque o Alentejo é aquela espécie de paraíso parado no tempo que acaba sempre por nos surpreender. Não há coisa muito melhor do que pegar no carro e ir almoçar ao Alentejo. Boa viagem!